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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A questão negra nos Estados Unidos Hoje - Eva Guerrero y Gustavo Dunga


Eva Guerrero y Gustavo Dunga

                A revolta de Los Angeles, a tensão e o tumulto subseque após o julgamento de O.J. Simpson, a marcha de “um milhão de homens negros”, são claros exemplos da aparição com toda a agudez da “questão negra”. Não são só os EUA. Temos cisto a emergência do “problema negro” também em países como o Brasil onde não existia uma tradição de luta pelos direitos do povo negro com tanta continuidade como nos EUA. A reaparição desse fenômeno político tem sua explicação no fato da crise imperialista golpear em primeiro lugar os povos oprimidos. A população negra sofre isso tanto no continente africano – o mais pobre do mundo - como em seus membros disseminados pelos países imperialistas e semicoloniais.

A questão negra sob o capitalismo.
A pilhagem imperialista mergulhou o continente Africano em condições de verdadeira barbárie. Nos séculos passados, 200 milhões de negros foram transladados para servir como escravos nas plantações que enriqueceram as metrópoles, quase metade deles morrendo no caminho nos porões infectados dos navios negreiros. Todo isso para por de pé o capitalismo industrial. Na época imperialista a Africa foi espólio da Inglaterra, França, Portugal, Belgica, Alemanha e Itália, e um dos centros de suas rivalidades que levaram essas potencias a primeira guerra mundial.
Por volta de 200 milhões de negros foram arrancados de sua terra natal e trazidos como escravos durante 300 anos para as colônias americanas. Aqui serviram para levantar o capitalismo na Europa Ocidental e depois para construir o país imperialista mais poderoso do mundo, Estados Unidos. Foi um processo que causou a morte, enfermidade e miséria mais aberrante, o retrocesso aos níveis mais desumanos de um continente inteiro, exprimido como preço do desenvolvimento das potencias imperialistas, de qual a aristocracia operária comeu as migalhas durante décadas, virando as costas para saques, a destruição, a realidade de uma nação negra dividida e roubada.
A questão negra nos EUA deve ser considerada como parte da luta do povo negro em todo o mundo por terminar com sua opressão.
O imperialismo Yanke, que se colocou de pé dês dos finais do século XIX, teve como condição de seu surgimento a instauração do “apartheid” para os negros libertos, enquanto se apresentava como o campeão da democracia perante o mundo.
A industrialização na África do Sul contemplou  o fenômeno do surgimento do proletariado de cor com medidas segregacionistas que culminaram na instauração de uma espécie de “apartheid”, sustentado pelo Estado e o exercito sul-africano, os lideres da contrarrevolução no continente.
A lutas anti-coloniais do segundo pós-guerra conduziram a independência formal de toda África continental. Era a época da decadência dos imperialismos britânico, Frances e belga, e da emergência indisputável da nova potencia EUA. Mas as revoluções anticoloniais caíram congeladas por serem dirigidas por nacionalistas burgueses (Egito, Argélia, Sudão) ou por direções estalinistas com as de Moçambique e Angola, e retrocederam até chegar a situação atual, em que esses países são novamente semicolonias imperialistas e se afundo sob a exploração direta dos monopolis imperialistas, sob o governo das dividas externas, sob a imposição de ditaduras sangrentas que garantem esse saque (como na Nigéria), guerras tribais alimentadas por distintas potencias imperialistas que  (Ruanda, Libéria,etc.).

A questão negra e a III Internacional.
A “questão negra” mantém hoje tanta atualidade como a que considerava a III Internacional em seu momento. É uma das mostrar mais claras de que o imperialismo é a fase decadente do capitalismo e que depois de mais de um século não propões aos povos oprimidos outra saída que não afundar-se na miséria mais extrema e os condena a padecer das piores enfermidades, guerras me massacres recorrentes.
 Para adentrarmos em como a questão negra se manifesta hoje nos EUA partiremos de reivindicas a visão da III Internacional sobre a questão negra como a luta de um mesmo povo que se manifesta além de continentes e fronteiras e de forma essencial que cabe aos negros norte-americanos na luta pela libertação do povo negro em seu conjunto: “A guerra de secessão levada a cabo, não para libertar os negros, mas sim para manter a supremacia industrial dos capitalistas do norte, colocou o negro na obrigação de escolher entre a escravidão do sul ou o trabalho assalariado do norte. Os músculos, o sangue, as lagrimas do negro ‘liberto’ ajudaram o estabelecimento do capitalismo americano, e quando convertido em uma potencia mundial, a America foi arrastada à guerra mundial, o negro americano foi declarado igual ao branco para matar e morrer pela democracia. Quatrocentos mil trabalhadores de cor foram alistados nas tropas americanas, onde foram formados regimentos ´Jim Crow’. Acabando de sair da guerra, os soldados negros que voltaram para suas casas, foram perseguindo, linchados, privados de toda a liberdade, assassinados e pregados no pelourinho. Combateram para afirmar sua personalidade, tiveram que pagar caro. Foram perseguidos até mais do que antes da guerra para ensiná-los a ‘se por no seu lugar’. A ampla participação dos negros na indústria depois da guerra, o espírito de rebelião que despertou neles as brutalidades das vitimas, colocou os negros da América e, sobretudo os da América do Norte na vanguarda da luta da África contra a opressão.” (Teses sobre a questão negra)
Os negros Norte-americanos na decadência do império.
Os trabalhadores dos EUA, dês dos anos de 81 vem perdendo aceleradamente suas conquistas. Reagan, após a derrota da greve dos controladores aéreos avançou sem freios. Subsídios escolares, seguro desemprego, empréstimos às minorias, seguros médicos, programas de trabalho para jovens foram limitados ou eliminados.
A era Bush não fez nada senão acentuar essa tendência. Algumas cifras o comprovas: o déficit que em 1988 foi de U$S155,1 mil milhões foi duplicado em 1992 em U$S290 mil milhões, com o crescimento anual médio do país dês dos anos 30: 0,7%. Trás o debilitamento da economia e a recessão, Clinton só pode mostrar um breve rebote econômico conjuntural. A realidade é que nos últimos 16 anos, republicanos e democratas têm logrado em acentuar a polarização social. A franja dos mais ricos aumenta enormemente suas ganâncias, enquanto no outro extremo cai a renda dos mais pobres. O desemprego e a baixa salarial golpeiam muitos setores importantes da classe operária e dentro da classe os mais prejudicados são os negros e os hispânicos.

 Historicamente o setor assalariado da minoria negra recebeu um salário entre 60%  e 70% do que recebem os brancos. Dês de 1994, 35,6 milhões estavam abaixo do nível da “linha de pobreza”. A este setor pertencem 11% da população branca total, 25% dos hispânicos e 33% dos negros. É 80% da população carcerária e 95% dos condenados a morte, 30% das tropas militares. Um terço dos negros vive em lugares onde a chefe de família é uma mulher sozinha; há três vezes mais mães solteiras negras (33%) que brancas (12%). Ter milhões de crianças negras sem pai depende exclusivamente da esmola do Estado para sobreviver e ficaram sem ela graças o esforço conjunto de Republicanos e democratas. (Fontes: The Economist, 24/2/96; Newsweek, 30/8/93; Workers Vanguard Nº 631, 20/10/95).

Os negros são os preferidos das batidas policiais. Ainda que tenha uma incidência de drogas proporcionais aos brancos, os visualizam como os principais usuários e traficantes. A repressão policial se exerce sobre eles com particular brutalidade; ser negro e especialmente negro e jovem é ser suspeito; no entanto, os negros em três vezes mais probabilidade de ser vitima de um assassinato do que os brancos da mesma idade; sua expectativa de ascensão social tem baixado da metade para um terço da dos brancos. Formam a maior parte dos setores que só contam com a ajuda estatal (seja em forma de vale-refeição, hospitais, escolas, etc.) e por tanto os que sofrerão – e já sofrem- a redução drástica dos gastos sociais. Cão também os que mais sofrem as consequências do aumento do desemprego. Os trabalhadores negros são e continuam sendo sempre as vitimas privilegiadas dos cortes das empresas e dos despidos ‘por reestruturação’, por exemplo, no ‘cinturão de aço’ em Detroid.
Resurge a Luta negra.... e os apontamentos dos fascistas
Esse aumento da polarização social e da degradação da situação dos negros nos EUA estourou na revolta de Los Angeles em 1992. Com uma violência inusitada onde não só os negros, mas também os hispânicos destruíram tudo o que tinham ao seu alcance, expressando seu ódio e fúria contra a justiça racista que acabara de absolver os policiais que golpearam selvagemente ao Rodney King, e contra a miséria e a repressão cotidiana.
O veredito do juízo penal ao ex futebolista O.J. Simpson que foi inocentado mostrou dois extremos: de parte dos brancos e em especial dos editoriais da imprensa burguesa toda sua indignação. Ao contrario os negros e as minorias oprimidas saíram a festejar aos milhares nas ruas em diversos tipos de manifestações. Para eles o fato significou um triunfo dos que cotidianamente são pisoteados pela justiça racista e a policia.
A “marcha de um milhão de homens” foi um dos pontos culminantes do novo desenvolvimento do movimento negro nos EUA e do florescer de uma verdadeira “consciência nacional” do povo negro nesse país que também podemos ver em sua manifestação cultural e nas letras de centenas de canções de rapo, ou na valorização da figura de Malcolm X.
Como contrapartida as ações da população negra, temos visto um grande incremento das ações dos membros de organizações abertamente fascistas. Exemplo disso são as milícias de Michigan, que explodiram o edifício da oficina de Controle de Tabaco, Armas e Álcool em Oklahoma. O resurgimento da Ku Klux Klan no estado de Mississipi que, até agora, em 1996 incendiou 16 igrejas onde se reúne a comunidade negra. Ou a “Milícia dos Homens Livres” em Montana. Calcula-se 100.000 membros dessas milícias, recrutados em setores da classe média golpeados pela crise, que reclamam a superioridade do homem branco, pedem o fim do pagamento de impostos ao governo federal e culpam os negros e imigrantes pela crise.
Para os que chegaram a prognosticas no “fim da historia”, a luta dos negros e o desenvolvimento das bandas fascistas visualizam um futuro muito convulsivo no próprio coração do império, mostrando a impossibilidade do capitalismo em sua fase decadente de integrar o povo negro e demais minorias oprimidas.

O fracasso das ações afirmativas e a necessidade de uma política revolucionária.
Durante os anos 50 e 60 se desenvolveram as lutas pelos direitos civis. Essas lutas obrigaram a burguesia imperialista a promover as “ações afirmativas”, quer dizerr: a determinação formal de todas as limitações dos direitos civis e acesso a cargos públicos e maiores cotas na educação. Assim, um setor minoritário da população negra se incorporou ao establishment, consolidando-se um setor de pequeno burguesia e burguesia negra, semeando no conjunto da comunidade a ilusão de que podiam cumprir-se as aspirações de igualdade dos negros no marco da democracia imperialista.
A formidável força posta em cena pelas massas negras, que arrastou grandes setores do proletariado e dos estudantes brancos como seus aliados, foi desviada e abortada por obra das direções reformistas e da inexistência de uma direção revolucionária que colocasse uma perspectiva para unir essas lutas ao formidável Ascenso de massas mundial que começou a desenvolver-se nos fins dos 60 e que nos Estados Unidos incluiu a radicalização da juventude (principalmente contra a guerra do Vietnam) e um importante ciclo de lutas operárias.
A política de Martin L. King, que arrastou seus seguidores para trás das bandeiras do Partido Democrata; a política dos grupos radicalizados como os Panteras, Black Power, Malcon X, etc. – que ainda que vislumbrassem uma aliança com os povos explorados do mundo, não puderam superar seus aspectos utópicos e etapistas; junto a repressão por parte do Estado imperialista (assassinando ou prendendo esses lideres quando começavam a orientar-se para posições mais radicalizadas, colocando a unidade com a classe trabalhadora e com os povos coloniais), enfraqueceu essas lutas. Uma vez decapitado o movimento negro, desmoralizados ou desaparecidos seus maiores ativistas, cooptado um pequeno setor graças aos dividendos do “boom”, e iludido o resto pelas concessões formais, as massas negras só valeram para os políticos imperialistas como fonte de pechincha eleitoral. Uma política autenticamente revolucionária, que não se arrasta atrás do reformismo nem atrás do utopismo radical poderia ter ajudado a delimitar os melhores elementos do movimento negro, incluindo a muitos de seus honestos quadros juvenis radicalizados, os incorporando a uma luta revolucionária internacionalista, no próprio seio da principal potencia imperialista, no mesmo momento em que essa era derrotada no Vietnam e em que florescia em todo o mundo um poderoso Ascenso operário e de massas.
As ilusões despertadas pelas pequenas conquistas da “ação afirmativa”, para a maioria da comunidade negra faz tempo desapareceram arrastadas pelas realidades dos guetos, a repressão policial, o desemprego, a descriminação e a falta de futuro, como demonstram as cifras de expectativa de vida, de criminalidade, de salários diferenciados, de mobilidade social e etc. Porque pela dinâmica própria da época imperialista, toda conquista arrancada do Estado capitalista-imperialista que não destrói a fonte de miséria e opressão (o próprio imperialismo) acaba se perdendo pelo mesmo ataque dos explorados em sua insaciável sede de ganância.
Não só se mostrou falso o projeto da burguesia de integrar os negros, mas as direções reformistas que propunham esse caminho caíram sem a base de sustentação real. Os fatos objetivos que mencionamos acima fizeram reascender o nacionalismo e o separatismo. As direções domo Farrakhan tentam dar uma saída reacionária a esse movimento e evitar que desenvolva todas as suas potencialidades.
O resurgimento do nacionalismo expressa um sentimento legitimo produto das condições objetivas de opressão e exploração sofridas pelo povo negro, uma tentativa de construir uma identidade que os livre da exploração e do racismo do imperialismo.
Para nós não pode existir um partido verdadeiramente revolucionário no EUA, se não se nutre dos setores mais oprimidos e explorados do proletariado, nesse caso dos negros e latinos. Todo partido revolucionário deve aspirar engrossas suas fileiras com esses setores. Para conseguir, é imprescindível que os trotskistas levantemos o direito dos negros a autodeterminação (e inclusive a separação com um Estado próprio se assim pretenderem). Como já assinalara Trotsky, isso nos permitira dialogar com as massas negras dizendo-lhes que queremos que sejam elas que digam se querem permanecer em um Estado comum com os brancos, ou se querem construir um Estado próprio. Ao mesmo tempo explicamos que os, como trotskistas, opinamos que seria melhor lutar contra o imperialismo no marco de um mesmo Estado junto aos trabalhadores brancos.
Essa política é a única que nos permitira ganhar a confiança das massas negras, minada por séculos de racismo e exploração. A defesa do direito a autodeterminação do povo negro (incluindo a construção de um Estado próprio), deve ser um dos eixos a levantar em um programa de ação para a intervenção de conjunto do proletariado yanque, programa que articulando as demandas democráticas das minorias oprimidas com as reivindicações diretamente socialistas do proletariado, temos tentando aproximar nos na Estratégia Internacional nº2.

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