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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Sobre Mulheres Pretas e Um Novo Mundo.


                Ontem, participei do lançamento do livro “Mulher Estado e Revolução”, que aconteceu no auditório da Geografia na USP, tanto a discussão do livro como ver o exemplo de mulheres trabalhadores que mesmo trabalhado o dia inteiro, com dificuldade de condução se esforçaram para poder vir nesse espaço, se alimentar dessa teoria revolucionária, tomando como exemplo as operárias revolucionárias da Russia para transformar sua realidade me deram uma grande inspiração para compartilhar com vocês algumas ideias que tenho desenvolvido sobre nós mulheres pretas.
                Todas essas leituras  que tenho feito nesse ultimo período têm me feito pensar profundamente na questão da mulher negra numa chave revolucionária, sendo assim gostaria de colocar algumas colocações sobre meus pensamentos e dedica-los a algumas mulheres guerreiras que tem sido exemplo pra mim e que serve de inspiração e força para que continue lutando cotidianamente. Digo isso pensando principalmente na Sil. que me enche de coragem, e esperança ao lembrar de sua história de vida e luta e ao observar como nós mulheres pretas podemos e devemos ser protagonistas na transformação de nossas vidas e dessa sociedade,.
Bom, o livro Da Wendy é fruto de uma importante pesquisa sobre a situação das mulheres na Revolução Russa, mostra como nos século passado, a luta operária pela tomada do poder deu condições matérias para a emancipação das mulheres e em seus primeiro passos já tomou iniciativas que até hoje a democracia burguesa não foi capaz de ceder em vários países.
Ao mesmo tempo em que coloca todos os avanços e as discussões dos Bolcheviques nessa época, coloca também todas as contradições que houve nesse processo e mostra como o Estalinismo se colocou como uma força contra-revolucionária dentro da revolução, se apoiando no resquício que tinha de mais atraso, e a partir da defesa da família retrocedeu em vários direitos das mulheres.
                A partir dessa discussão, podemos tirar lições estratégicas muito importantes: A primeira é que a luta pela emancipação das mulheres, ao contrário do o estalinismo levanta, ou mesmo do que hoje nos acusam vários setores, não deve ser tomada em separado da luta pela tomada do poder para a construção de uma sociedade sem classes e a libertação da humanidade. Nós revolucionários devemos ser os maiores defensores dos oprimidos e devemos mostrar à classe operária a que serve as opressões e que devem junto a sua luta levantar a demanda de todos os oprimidos.
                A segunda diz respeito sobre o caráter permanente da revolução: A tomada do Porter, garante por um lado as mudanças das condições objetivas para que possamos avançar no processo de emancipação da humanidade, mas é só um primeiro passo, é o inicio da disputa para as mudanças de vida. Sendo assim dês de já, os revolucionários devem encarar esses problemas como parte das tarefas revolucionárias, para que ao passo que avançamos na luta de classes também possamos avançar na superação dessas questões. 
                Por ultimo colocaria a necessidade de uma revolução internacional. Com o isolamento da URSS a revolução tinha os dias contados, assim como as conquistas das mulheres. Um estado operário deve servir de força para impulsionar outras revoluções, pois o capitalismo fará de tudo para isolar e derruba-lo, servindo de exemplo para a classe operária do mundo inteiro.
Machismo e Racismo e as implicações do capitalismo para as mulheres pretas.
Como disse Engels, a primeira divisão do trabalho na sociedade foi a divisão sexual do trabalho, e apesar do patriarcado não ter sido criado pelo capitalismo ele é base da criação da propriedade privada e do Estado que da base para uma sociedade onde uma classe pode explorar a outra.
Por outro lado a acumulação primitiva de capital é em grande parte oriunda do sequestro de pretos Africanos para mão de obra escravizada nas colônias, ou seja, a riqueza que possibilitou com que o capitalismo se desenvolvesse veio das colônias dos antigos Impérios, que utilizavam de mão de obra escrava, sendo assim tanto as produções nessas colônias como o trafico de escravos foram base dessa acumulação.
Para sustentar essa exploração brutal, a apropriação da vida de um ser humano a partir da escravidão dos negros, foi preciso um arcabouço ideológico que inferiorizasse nossa raça, que nos desumanizasse, para explicar a nossa escravização e a exploração que se dá até hoje do continente Africano.
O capitalismo, para manter suas margens de lucro e dividir as fileiras da classe operária, se apropria desses sistemas de opressão, se mostrando incapaz de concretizar a demanda que sua própria revolução levantara: a igualdade. Toda essa discussão, que parece abstrata se encontra de forma bem concreta na vida de cada mulher, de cada negro, de cada homossexual e se da de forma ultragente no cotidiano da maioria de nós, mulheres pretas.
E o que sobra para nós mulheres pretas?
O fim da escravidão ficou longe de ser um processo de real libertação para os negros do mundo inteiro. Vivemos ainda em uma sociedade de classes e ainda a maioria de nós é oprimida e explorada para garantir os lucros da classe dominante. Muitos de nós fazemos parte de um setor que nem sequer tem a possibilidade de ser explorado, que vive um desemprego estrutural, o lumpem-proletariado. O Partido dos Panteras Negras nos EUA nasce com a intenção de organizar esses setor mais especificamente*.
Dentro dessa sociedade o que a maior parte das mulheres negras encontra é uma vida onde a opressão gerada pela questão de classe, raça e gênero se entrelaçam de uma forma indissolúvel e cruel.
O que vivemos cotidianamente é a miséria que o capitalismo nos impôs, um país que contem o maior “exército” de empregadas domésticas do mundo e que em sua maioria são negras; uma das maiores populações carcerárias do mundo que também em sua maioria é negra; trabalhos altamente precarizados ocupados em sua maioria pelos negros, terceirização; morte por abortos clandestinos; estupros; condições insalubres de moradia; transporte, saúde e educação altamente precarizados; violência policial; genocídio e mais milhões de outras coisas que poderia levantar aqui.
Mas não só as condições objetivas de vida. O racismo também causa inúmeros impactos subjetivos em muitas de nós. Fanon, ao estudas a subjetividade dos negros nos países colonizados consegue expressar a miséria subjetiva que também é imposta aos negros.
Não somos o padrão de beleza, e muitas de nós matam cada dia nossa identidade, tentando se parecer um pouco mais com as mulheres brancas. Somos ainda consideradas objetos sexuais dos “senhores brancos”, hipersexualizadas somos desejáveis apenas como amantes, mas na subjetividade dos homens brancos e negros não servimos como companheiras para relações amorosas profundas, apenas para diversão.
Sozinhas, muitas vezes tendo que cuidar de toda a família com um salário mínimo, resistimos na Babilônia. Essa é a nossa situação. O racismo nos ataca todo o dia nos lembrando da inferioridade que delegaram a nossa raça, e mesmo que sem perceber vamos, por vezes, nos apropriando da visão do opressor.
Mas nós não sucumbimos, para nós sobreviver é resistência! E todos os dias encontro grandes guerreiras que mesmo com todos esses problemas ainda resistem para existir, algumas mais audazes lutam não só para existir, mas para transformar essa realidade. E a luta é uma escola de guerra. Se a realidade de nossas vidas nos torna duras querreiras, a luta de classes nos ensina e nos cobra a missão de sermos partes da Vanguarda revolucionária e as melhores combatentes nesse processo de transformação.
Mas o que nós mulheres negras temos em comum com as mulheres brancas da Rússia?

                Trotsky tem uma fase, que passa pela minha cabeça quase que cotidianamente:
aqueles que mais sofreram com o velho são os que lutarão com mais força e abnegação pelo novo.
Assim como para as operárias russas oprimidas pelo Tsarismo e pela igreja, não há outra saída para nós mulheres negras a não ser a luta pela libertação da humanidade. O capitalismo não nos deu nada além de humilhação e pobreza. Não temos nada a perder a não ser nosso grilhões! Devemos tomar em nossas mãos não só o rumo de nossa história, mas da história da própria humanidade.
No que diz respeito ao que algumas feministas acreditam serem avanços relativos dentro da democracia burguesa, para que o capitalismo permitisse uma relativa independência das mulheres brancas burguesas e pequeno burguesas nós fomos obrigadas a cuidar de suas casas e deu seus filhos. O capitalismo avança em cima de nossa exploração, humilhação e morte. Para acabar com o nosso sofrimento é preciso também acabar com o capitalismo.

Mas a nossa luta não se resume apenas a luta pela tomada do poder, mas também a luta intransigente pelos direitos democráticos das mulheres, dos negros, dos LGBT´s e de todos os oprimidos como parte da nossa luta cotidiana nos sindicatos, entidades estudantis e movimentos sociais.  E como parte da transformação material da sociedade, construiremos uma nova moral que será o inicio de uma transformação muito mais profunda, que nos levará a lugares nunca antes percorridos, que permitirá a humanidade se desenvolver de formas nunca antes vistas, da qual temos apenas uma pequena dimensão com o exemplo da URSS.
Nossa libertação, como mulheres negras se dará assim. Não seremos nós, que vivemos há gerações a humilhação, que fomos escravizadas, desumanizadas e até hoje tratadas como o que de pior existe nessa sociedade que iremos pegar o chicote para perpetuar a escravidão moderna de outros homens e mulheres. Nossa libertação é a libertação da humanidade!
De nós nascerá um novo amanhã. Traremos a força e a experiência daqueles que nunca desistem, que aprenderam com a vida e com a morte. Devemos ter em nossas mentes e corações o exemplo de nossos ancestrais guerreiros que morreram lutando por um mundo melhor.
 A luta não será fácil, e nunca foi, mas nos levantaremos a cada tombo, porque a esperança em um mundo melhor é a mais forte das armas que uma guerreira pode possuir. Retomaremos o nosso direito de sonhar, e lutaremos para que os sonhos se transformem em realidade.
 E em cada guerreira preta, em cada Dandara que desperta para luta, já se pode ver o brilho de um novo mundo!
 
*ler texto:  “ Os Panteras Negras e o Drum” - http://pretotrotskismo.blogspot.com.br/2013/12/os-panteras-negras-e-o-drum.html

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