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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Obama retoma Martin Luther King para conter a luta dos negros



Originalmente publicado em 09 de março de 2015





Nesse sábado, dia 07 de março o primeiro presidente negro dos EUA, Barack Obama, fez parte da marcha em Selma que comemorou 50 anos da grande marcha por direitos civis que resultou no direito voto aos negros.


Essa marcha foi liderada por Martin L. King após uma primeira tentativa que foi duramente reprimida pela polícia, esse episódio ficou conhecido como “domingo Sangrento”, a resposta foi uma marcha de milhares.


O filme que conta a história sobre esse processo ganhou prêmio de melhor trilha sonora no Oscar. As ideias de King têm aparecido com muita força no último período, impulsionadas em certo sentido por setores como o presidente Obama, que fez um apelo para que a população siga o “espírito de Selma”. Mas por quê?


A primeira vista, um presidente negro que reivindica que os negros marchem pelos seus direitos assim como fizeram vários negros e negras ao lado de King parece muito progressista. Mas é preciso analisar melhor o desenvolvimento do próprio movimento negro da época para entender porque em tempos de revoltas populares como Ferguson o governo usa Selma como freio para a rebeldia negra.


Isso se justifica do seguinte modo: além de King, vimos nos EUA no fim da década de sessenta surgir um setor do movimento negro muito mais radicalizado, esse setor ficou conhecido como movimento Black Power, alguns grupos e figuras desse setor são muito conhecidos como Stokely Carmichael, Malcolm X e o Partido dos Panteras Negras. Mas qual a diferença?


O movimento Black Power, tirando conclusões das tentativas dos negros na luta por justiça e liberdade decidiu seguir um caminho diferente de King. Percebeu que não era possível fazer pequenas reformas para inserir os negros na sociedade Norte Americana. Os negros não poderiam se libertar até o fim das amarras sociais e econômicas de anos de escravidão sem acabar com o esse sistema.

Heuy P. Newton, em uma mensagem à sessão plenária da Convenção Constitucional dos povos revolucionários, ao colocar a situação dos negros norteamericanos diz que:

“Nós não compreendíamos, no entanto, que qualquer tentativa de cumprir as promessas de uma revolução do século XVIII no quadro de uma economia e de uma sociedade do século XX estava fadada ao fracasso.(...)


O Movimento dos Direito Civis não conseguiu a promulgação dessas leis e, de fato, nunca a conseguiria dada a natureza da sociedade e da economia americanas. A perspectiva do Movimento de Direitos Civis era a de alcançar objetivos que dois séculos de transformações violentas modificaram profundamente.


Consequentemente, o Movimento dos Direitos Civis – e os movimentos similares- não conseguiu criar quaisquer bases para a vida, a liberdade ou para a felicidade. Só criaram humilhantes programas de ajuda social, de compensação contra o desemprego, programas que, embora conseguindo enganar o povo, são incapazes de modificar a repartição fundamental do poder e dos recursos deste país.


Além disso, enquanto estes movimentos tentam integrar as minorias no sistema, vemos que o governo prossegue a sua política, a qual contradiz a sua retórica democrática.” ¹

Chegando a se apropriar de teorias marxistas, como no caso do Partido dos Panteras Negras e outro, o que esses grupos se propunham era a derrubada desse sistema a partir da organização dos setores oprimidos. Sabiam que o Estado que governa para uma classe dominante e no caso dos EUA para os grandes monopólios não poderia dar-lhes nada a não ser essa vida miserável e a violência policial que já conheciam há anos.


Esses setores não se radicalizaram apenas no conteúdo, mas também nos métodos, se armando para se proteger da polícia, alguns setores optando pela luta armada, organização de greves selvagens em Detroit e etc. Ganharam respeito de grande parte da comunidade negra e foram um grande problema para o governo, foi preciso destruir essas organizações e matar seus líderes para resolver esse “problema”. Os negros não poderiam decidir seu próprio caminho, pois isso significaria colocar de pé, como protagonistas de uma luta para derrubar esse sistema, um dos setores mais oprimidos, mostrando para o “Terceiro Mundo” e para os negros do mundo inteiro que temos um inimigo comum.


Os atos em resposta a morte de Mike Brown e Eric Garner, retomaram um espírito de radicalidade, com aparição de grupos armados como “Heuy P. Newton Guns Club”, enfrentamento com a polícia e etc. Mesmo com a tentativa de vários líderes negros e até mesmo da polícia e do governo de acalmar a revolta popular o que esse episódio mostra a todos e todas é que o povo negro sabe que são alvo da polícia e que o fato de ter um presidente negro no país não alterou em nada a realidade cotidiana dos negros nos EUA.

“Justiça”, era isso que exigiam, mas nem isso o governo norteamericano podia dar, o policial que matou o jovem Michael Brown não foi nem será processado pelo governo. Assim como a polícia não deixará de assassinar os negros nos EUA, pois isso não é apenas uma questão que preconceito da corporação ou falta de policiais negros. Isso faz parte da estrutura de um estado e de um sistema que foi criado e se sustenta pela subjugação dos negros, das mulheres dos LGBTs e etc.


Para que essa rebeldia não reviva o espírito Black Power é que o governo na imagem de Obama tenta a qualquer custo reviver o espírito de Selma. Mas será que o espírito de King e a marcha por direitos civis é capaz de mudar a realidade vivida pelos negros hoje?


O que aponta tanto a experiência do movimento negro norteamericano como os próprios levantes contra o assassinato de negros pela polícia é a necessidade da organização dos negros e negras para dar uma resposta radical que esteja a altura dos acontecimentos e que tire lições políticas dos erros e acertos dos grandes movimentos anteriores para atacar com ainda mais força esse sistema criado para nos explorar, humilhar e oprimir. Que seja internacional e que ligue todos os oprimidos e explorador e que consiga atacar o coração do capitalismo.


1- http://pretotrotskismo.blogspot.com.br/2014/04/mensagem-de-huey-newton-sessao-plenaria.html

Mike B. e Amarildo: duas faces da mesma América



Um espectro negro ronda os EUA e a história se repete novamente, os negros se levantam contra o racismo que aponta suas armas para a juventude preta e pobre.


Tão longe e tão perto. Mike e Amarildo têm em comum muito mais do que sua cor. Jovens negros vítimas de Estados baseados no racismo, na arma da polícia que privilegiadamente aponta pra os pretos. Tronaram-se símbolos do sofrimento negro, da juventude que tem na cor de sua pele a sua sentença de morte.


A mesma cor, a mesma história. Morreram como mais um exemplo do lado mais perverso da existência negra. Mas suas mortes não foram em vão, seu sangue alimentou a força dos que nada têm a perder.


E como se fosse possível, acenderam no Brasil e nos EUA a faísca do exercito de Zumbi. Nem mesmo o presidente negro ou a mulher do Partido dos Trabalhadores conseguiram calar a indignação de um povo que não aguenta mais. Cuidado, os negros estão perdendo o medo de suas policias, começam a questionar seus líderes conciliadores, são novos guerreiros, heróis que se erguem com sede de justiça.


Vejam, em vários lugares do mundo, a juventude e os trabalhadores despertaram do sono da ofensiva neoliberal. Agora é a vez dos pretos, a burguesia treme de medo. E se a revolta inspirar um novo Haiti? A mascara da “democracia racial”, da sociedade pós-racial, começa a cair, e a verdadeira cara da escravidão moderna aparece. Seja nos morros do Rio de Janeiro contra as UPPs, ou nos bairros pretos dos EUA, os negros decidem protestar contra a violência policial que assola suas vidas desde a escravização.


Ao questionar o braço armado do Estado burguês, esses negros devolvem as balas no coração do capitalismo. Sem as armas, como a burguesia protegeria sua propriedade privada? Como conseguiriam dominar? Se num país imperialista como os EUA, alguns pretos conseguiram ter alguma ascensão social, o que sobra para maioria é o trabalho precário, a vida nos guetos, a prisão e a morte pelas mãos da policia.


Do outro lado da América, a burguesia não pode permitir nenhum tipo de ascensão, senão apenas algumas cotas para uma pequena minoria enquanto a maioria esmagadora segue na mesma situação. Cede algumas poucas coisas para enganar o maior exército negro fora de África.


Olhamos com alegria esse levante! Me soa como a melhor das músicas do Facção Central. Mas é preciso mais do que revolta e força, precisamos aprender com os erros e acertos dos guerreiros que nos antecederam. Precisamos nos organizar transformar o ódio em força revolucionária, transformar a ânsia por justiça em organização.


Unir os oprimidos contra os que nos matam, dividir tudo com os que não tem nada!

Nossa tarefa é difícil. Eles têm o Estado, têm os meios de produção, têm a ideologia dominante que nos divide. Mas nós estamos em todos os lugares, em cada fábrica, escola, em cada local de trabalho, somos um exército gigante que não tem nada a perder.


No Brasil, a favela não se cala, mas a falta de uma organização revolucionária de trabalhadores socialistas que ligue a voz dos pretos da periferia com os que possuem em suas mãos a força de parar o mundo impede que os gritos dos bravos guerreiros ecoem mais alto. Assim, a polícia continua a nos matar. Em Belém, a periferia escorre sangue negro. Nas favelas de São Paulo, toque de recolher.


Nos EUA, a luta se reacende. Pode e deve ir além da punição do assassino de Michael Brown. É preciso levantar um programa que seja capaz de responder as indignações das ruas e atacar o racismo pela sua raiz, organizando os negros e negras ao lado dos trabalhadores contra a polícia, o Estado e os patrões.

Precisamos Conversas Sobre a Polícia II



A Necessária polemica com a desmilitarização.

O programa de desmilitarização parte de um problema concreto: a violência policial. Organizações políticas de esquerda, movimentos sociais, movimento negro, representantes da burguesia internacional como a ONU, até mesmo alguns setores a própria policia defendem a desmilitarização como saída para esse problema.

Dentro da luta pela desmilitarização encontramos diferentes significados para esse elemento programático, primeiro discutiremos com as que visam: Apenas da forma a polícia e não de seu conteúdo, apontando para a necessidade de unificação das polícias e retirada de patentes (ou seja uma policia única sem hierarquia), mas sem alterar ação policial; as que fazem um questionamento da formação policial de guerra e do julgamento dos crimes policiais serem tratados em tribunais militares.

Na correta intenção combater a violência policial contra os negros, o genocídio e o encarceramento alguns setores acabam atacando apenas a ponta do iceberg, a polícia militar. Vejam, uma polícia truculenta, racista e assassina não é resultado da forma de organização militar de um setor da polícia, ou até mesmo uma questão de valores e etc. É sim uma necessidade de uma sociedade tão desigual onde a questão de raça e classe se entrelaça profundamente desde sua origem.

Mas não podemos negar totalmente alguns elementos expressos nesses pontos programáticos, pois parte da luta contra a violência policial deve ser o fim alguns privilégios da policia como tribunais militares, patentes, assim como a retirada mediata de bonificação dos policiais que fazem parte dos grupos de operação especial da policia.

Apesar de levantarem pontos importantes para a construção de um programa, não há um questionamento do papel que a policia cumpre enquanto braço armado de um Estado subordinado à uma classe, defendendo a propriedade privada e o lucro dos capitalistas contra a classe trabalhadora e os oprimidos. E como resultado acabam propagandeando para os trabalhadores e negros é que seria possível uma polícia ligada a esse Estado burguês que fosse cidadã, ou seja que defendesse o interesse dos explorados e oprimidos.

Outros setores que defendem também a desmilitarização apresentam um programa definido, que visa prioritariamente uma disputa da instituição Polícia Militar, como pode ser visto no programa do PSTU:


“Fim da atual estrutura policial e criação de uma polícia civil unificada, que defenda os interesses dos pobres e dos bairros da periferia.
Uma estrutura interna democrática com eleição dos comandos superiores.
Direito a sindicalização e de realizar greves em defesa de suas reivindicações.
Salários dignos e condições de trabalho como as do restante do funcionalismo público.
Supressão dos tribunais militares e jurisdição civil para todos os crimes e delitos cometidos por policiais.
Capacitação profissional para investigação com investimento em tecnologia.
Fim imediato das tropas encarregadas de repressão das manifestações.
Fim das empresas de segurança privada; auditoria patrimonial nas existentes, com punição exemplar nos envolvidos em atividades criminosas. Relocalização dos trabalhadores deste setor de segurança, após prévia capacitação.
Além disso, o programa deve apontar para que a população mais carente (organizada em sindicatos, associações de moradores e movimentos sociais) assuma o controle e sua defesa, com a formação de grupos comunitários encarregados de controlar e trabalhar com a Nova Policia Unifica e Civil. Todos devem estar subordinados aos Conselhos Populares de Segurança, formados por trabalhadores, sindicatos e organizações populares e da comunidade.
Por fim é fundamental que os aparatos do estado se coloquem categoricamente contra a criminalização dos movimentos sociais.” ¹



No inicio dessa proposta já podemos observar um grave erro, quando os companheiros defendem a possibilidade de uma policia civil unificada que seja capaz de defender “os interesses dos pobres e dos bairros de periferia”. Ora, essa afirmação contradiz a analise marxista do papel do Estado e de seu aparato repressor. Um partido operário que levanta um programa como esse pode se tornar responsável por fortalecer dentro da classe a ilusão da possibilidade de uma policia para o povo, dificultando o processo de consciência da necessidade de uma organização em armas do povo.

Retomando o programa de transição, Trotsky que diz:

“(...) A tarefa das seções da IV Internacional é ajudar à vanguarda
proletária a compreender o caráter geral e os ritmos de nossa época
e de fecundar a tempo a luta das massas por intermédio de palavras-
de-ordem cada vez mais resolutas e por medidas organizacionais de
combate.”.²


A pergunta que fica é, será que este programa apresentado pelo PSTU ajuda a vanguarda a cumprir esta tarefa? Ao se abandonar a análise marxista de Estado e da polícia, assim como colocar a necessidade da disputa desse setor por fora da luta de classes e do ascenso revolucionário das massas, se comete um erro ainda maior, e que pode ser catastrófico: educando de forma equivocada a vanguarda operária, fazendo enxergar um inimigo de classe como aliado, afinal o policial também é trabalhador como nós”.

Por outro lado exigir o fim das tropas especiais que o Estado constituiu exclusivamente para reprimir a luta dos trabalhadores e oprimidos pela garantia de seus direito explicita o caráter do braço armado do Estado. Se na subjetividade geral garantida pela ideologia hegemônica ainda existe a visão de uma policia que serve para proteger a sociedade, quando se questiona a organização de setores da policia unicamente para reprimir manifestações, consideradas um direito na democracia burguesa se evidencia uma importante contradição dentro da instituição: Se ela serve pra proteger a sociedade, porque reprime a sociedade organizada que está exigindo seus direitos?

Discutir a necessidade do fim de tribunais militares também é uma forma de questionar o papel da policia, já que a própria é responsável por julgar seus atos, garantindo assim a possibilidade de fazer o que for necessário para proteger a classe dominante, ao mesmo tempo em que a coloca ainda mais separada e superior à sociedade. Mas essa mudança não pode levar as massas a depositarem sua esperança na justiça burguesa representada pelo judiciário, que também faz parte do Estado burguês e defende os interesses dos capitalistas, por muitas vezes se colocando ao lado das forças armadas e não das vitimas da classe trabalhadora.

A principal debilidade desse programa é observado na defesa de direitos a sindicalização e greve, assim como de salário, condição de trabalho e capacitação policial. Ora, os revolucionários querem organizar as massas contra a burguesia e seus lacaios, não devem defender direitos dos homens armados do Estado. Se as forças armadas ligadas a um Estado de classe defende os interesses da classe dominante só podemos chegar a conclusão de que: quanto melhores condições forem dadas à policia, mais forte ela estará para atacar os trabalhadores e matar a juventude negra. Também é fato que a própria burguesia precisa garantir métodos de controle das suas tropas, quanto mais repressiva e forte forem as suas tropas de homens armados, mais necessitará de um controle rígido, exatamente para que não se volte contra seus “patrões”.

A história da luta de classes mostra que o enfraquecimento do aparato repressivo e quem sabe uma possível divisão entre alto comando e a base dessas forças só pode ter alguma condição de acontecer como resultado da pressão de grandes fatos da luta de classes, dividindo os que decidem reprimir e os que se recusam e passam com suas armas para o campo de mobilização popular. Sendo assim para dividir as forçar armadas é necessário luta operária e popular, uma grande mobilização revolucionária das massas que vise vencer a repressão do Estado através de um exercito de autodefesa, e não colocar em risco os trabalhadores colocando pra dentro de suas organizações (centrais sindicais e etc) sindicatos policiais.

Por fim, conselhos populares de segurança que controlem a policia que ainda estará ligada ao Estado burguês na verdade só seria viável como forma de desvio, ou seja,por via de “conselhos gestores” que não impede em nenhum momento que a polícia deixe de cumprir o seu papel quando preciso. Mas como já vimos na saúde e em outros espaços, esse processo dificultaria ainda mais o avanço da consciência as massas sobre o papel da policia e do Estado, pois com uma cara mais democrática a polícia não iria deixar de cumprir seu papel de classes e quando for necessária vai se colocar conta a população que se iludiu com a ideia de uma gestão popular dos homens armados da burguesia.

Para terminar a discussão com os diferentes tipos de desmilitarização cito um debate já aberto em nosso livro:

Outros setores ainda defendem um “desarmamento da polícia” como concretização a “desmilitarização”. Ninguém é contrário a desarmar a polícia. Fazê-lo seria um passo importantíssimo para sua dissolução. Porém, este programa não é implementável senão por meio de armas nas mãos dos trabalhadores organizados em comitês de autodefesa e milícias ligadas aos sindicatos e organizações populares em um processo abertamente revolucionário. Não há lei e negociação possível que leve a burguesia a autorizar perder seus cães de guarda. O “desarmamento” por meio de leis e pressões pacíficas sobre as instituições da democracia burguesa é tão utópico quanto achar que a burguesia vai ceder seu poder sem combate. Além disso, esse programa reduz o problema da repressão às armas de fogo, deixando de lado a existência de um sistema penal e jurídico que possui as mesmas bases e produz o mesmo resultado repressivo e assassino que as tropas policiais armadas.³
Sendo assim é preciso que os revolucionários façam propaganda em todos os lugares sobre a necessidade do fim do braço armado do Estado burguês, clarificando para o conjunto da classe o papel deste setor. Não devemos ser responsáveis por nenhuma duvida sobre a possibilidade da instituição servir aos trabalhadores, por isso a necessidade de defender o fim das polícias.

Mas isso é insuficiente, é preciso organizar a luta pelas demandas concretas e urgentes que surgem da violência policial. Para responder às chacinas, ao genocídio, a repressão à organização operária e popular e outras tantas pautas é preciso pensar um programa de ação que leve a uma organização independente operária e popular que use sua própria força de mobilização e as ferramentas de luta construída pelos trabalhadores. E luta por esse programa, deve dar pequenos exemplos da auto-organização para cumprir o papel que o Estado burguês não pode cumprir como exemplo o julgamento dos responsáveis pelas mortes dos jovens negros e etc.Contestar o braço armado do Estado é parte fundamental para a luta pela mancipação da humanidade, ao passo que é possível desvelar o papel de classe desse aparato que se diz “neutro” e colocar a todos os oprimidos e explorados a necessidade de se organizarem para lutar contra a classe dominante e seus representantes. Num país como o nosso, onde a policia foi e ainda é necessária para atacar principalmente os negros não há reforma nessa instituição que possa resolver o genocídio e da violência cotidiana que os negros sofrem.

1- http://www.pstu.org.br/node/9154
2- https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1938/programa/
3- http://www.palavraoperaria.org/PDF-DO-LIVRO-COMPLETO

Precisamos Conversar Sobre a Polícia I



Os número sobre a violência policial em nosso país são alarmantes e tem como principal vítimas negros e negras, pesquisa feita em SP, DF, MG e RJ mostra que em um grupo de 10 0mil a proporção de mortes em ação policial tem a proporção de 1,4 negros para 0,5 brancos, sendo que a população auto-declarada negra não passa da metade. Isso não é por um acaso.


Não precisamos nem recorrer às pesquisas, todos os dias o jornais escorrem sangue negro por todos os lados, chacinas, morte nas UPP´s no Rio de Janeiro e todo tipo de violência possível de se imaginar. Os números de homicídios no Brasil são números de guerra, uma guerra onde o principal alvo é negro, com 3x mais chances de morrer que os brancos, e dentre os negros são os jovens os que mais morrem.


Os negros, são o principal alvo da policia e isso se expressa dês da expressão “suspeito padrão”, como em panfletos onde os bandidos são representados por personagens negras. Não é a toa que também é negra a maior parte da população carcerária de nosso país.

A polícia “moderna” filha dos bandeirantes, grandes caçadores de índios e negros, não pode ter um papel diferente na sociedade Brasileira, que precisa conter de alguma forma os setores que mais sofrem as mazelas do capitalismo.


Para combater o genocídio dos negros e a violência do braço armado do Estado com suas polícias e penitenciarias é preciso pensar um programa que seja capaz de dar resposta ao questionamento da violência policial e que mostre que a única força capaz de acabar com esse problema é a unidade operária e popular a partir dos métodos de luta da classe trabalhadora com independência de classe


Caráter de classe da polícia.


No Manifesto Comunista, Marx já alertava aos trabalhadores que o Estado moderno serve como balção de negócios da classe dominante. Ou seja, em uma sociedade dividade em classes que possuem interesses opostos e irreconciliáveis é preciso criar mecanismos que garantam a exploração de uma sobre a outra.


O Estado não é uma instituição neutra, ao contrário, serve como ferramenta de opressão que dispõe de destacamentos de homens armados e prisões (podendo ter outras instituições coercitivas também) para garantir o domínio de uma classe, no caso do sistema capitalista a burguesia. Esses destacamentos de homens armados são separados e superiores à sociedade e se contrapõe à organização da população em armas.


Mesmo quando o Estado, em alguns momentos possa também cumprir outros papeis, como a responsabilidade por várias questões sociais (como educação e saúde), o faz para aparecer enquanto uma instituição que garante o bem-estar geral e continuar perpetuando a dominação de classe, que é garantida pelo grupo de homens armados.


Isso é preciso porque em uma sociedade de classes, o armamento espontâneo da população levaria, como já vimos na história, à uma guerra civil devido a interesses antagônicos. Então a burguesia mantém a partir de seu Estado o controle social garantido pelo destacamento de homens armados como mecanismo pelo qual garante sua dominação.


É preciso ter um controle rígido sobre essa força armada, pois é o que garante a exploração da maior parte da população por um pequeno setor. Por isso a disciplina desses homens armados é tão forte, para garantir que defendam os interesses da burguesia e não dos oprimidos e explorados.


Entendendo o papel do Estado e seu braço armado a única conclusão que podemos chegar é que: qualquer força policial ligada ao Estado burguês NÃO PODE SERVIR aos negros nem aos trabalhadores.


No Brasil, o caráter racista da polícia


Na formação do Brasil, se por um lado as forças repressivas do estado cumpre seu papel de classe, por outro para cumprir esse papel carrega um caráter extremamente racista e violento.

Num país que teve como base do seu desenvolvimento a escravização de negros africanos e que por conta de uma elite débil não pode desligar seus laços de independência com a metrópole por medo da massas escravas, o aparato repressor do Estado só poderia ser formado para garantir a segurança de uma pequena elite branca a partir da repressão à massa negra. Esse elemento permanece na ascensão da burguesia brasileira que, por medo dos negros libertos e da classe trabalhadora que começa a nascer preferiu manter sua relação umbilical com a elite colonial. Ainda hoje podemos ver esse desenvolvimento como colocamos no livro Questão negra, marxismo e classe operária no Brasil:


A polícia no Brasil foi criada para caçar negros. Na capital imperial, o policial que capturasse algum negro nas ruas e não conseguisse provar quem era “seu dono” o levava a uma prisão especializada, o Calabouço. Lá ele tinha suas medidas feitas e um anúncio ia ao diário oficial para que algum dono fosse lhe reclamar. O policial que o capturava ganhava um bônus. As principais funções da polícia e do Diário Oficial surgiram para reprimir os negros. O judiciário do império também se desenvolveu para tratar de questões de propriedade, sobretudo de negros. Em resumo, o Estado brasileiro, em suas instituições fundamentais, surgiu baseado na escravidão e em sua reprodução.


A bonificação por caça de negros, interrompida com o fim da escravidão, ressurgiu nos anos 1990 com uma bolsa que foi apelidada pelos movimentos de direitos humanos da época como “bolsa faroeste”. Havia uma remuneração ao policial que se envolvesse em algum “auto de resistência” (eufemismo para o assassinato de negros pobres por policiais), com limite de três. Ou seja, o policial que tivesse matado três pessoas ganhava mais que o que tivesse matado dois, que por sua vez ganhava mais que o que tivesse matado um, o qual ganhava mais que o policial que não havia matado nenhum. Esta bolsa foi extinta. Porém, ainda hoje algumas tropas especiais recebem uma bonificação extra. Estas tropas com bônus são o BOPE, o Choque (ambas com um adicional de R$ 1.000,00 pagos pelo Estado), e as UPPs (R$ 750,00, pagos pela prefeitura).


Este incentivo a estas tropas especiais indicam quais são os programas estratégicos para a burguesia manter seu domínio. Se por um lado todas as polícias são fundamentais para a garantia da ordem, há tropas que a burguesia presta especial atenção em seu estado de ânimo e busca complementar a lavagem cerebral com incentivos pecuniários. Prólogo São as tropas usadas para reprimir as manifestações (UPP e Choque) e aquelas que são usadas para matar o máximo possível de pretos e pobres nas favelas e periferias (BOPE, ROTA). De forma indireta, a “bolsa faroeste” e a caça dos negros do império seguem existindo. Ao olhar o número de mortos pela polícia, o número de desaparecidos nas UPPs, a polícia do Império revive. (Comitê Editorial, 2013).


Ainda hoje a violência e o racismo da policia brasileira se tornam necessários, já que des da abolição o Estado brasileiro efetivou politicas para que os negros recém libertos fossem marginalizados tornando-se assim o setor mais precarizado da classe trabalhadora e também a maior parte dos trabalhadores sem terra e pobres urbanos.


Com uma enorme desigualdade social é preciso garantir que esses setores mais pauperizados não se levantem contra esse sistema. Para garantir a “paz” da burguesia contra os morros do Rio de Janeiro a política foi as UPP’s, e sabemos que mesmo sem a “polícia pacificadora” as favelas e periferias são alvos preferenciais da repressão da policia e vivem militarizadas.


Não é a toa que no momento de crise uma das politicas que já foi aprovada na Câmara e será votada no Senado é a redução da maioridade penal, afinal a juventude já tem sentido o peso do desemprego e de outros ataques do governo e como em qualquer outra questão são os jovens negros os que mais sofrem. É preciso garantir que o Estado terá condições de reprimir esse setor explosivo, o que não significa que isso já não seja feito, mas agora pode ser ainda mais massivo.


Esse é o Estado burguês, mata e prende os negros para defender os ladrões de colarinho branco e garantir o lucro dos maiores ladrões dessa sociedade: a burguesia. É a classe dominante que rouba nossas vidas, nossa saúde, que mata por dinheiro que não tem remorso em deixar milhares com fome, sem casa e sem saúde, porque precisam disso para poder ganhar cada vez mais