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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Escritos sobre a Dialética radical do Brasil Negro – Clóvis Moura. PARTE 3

Escritos sobre a Dialética radical do Brasil Negro – Clóvis Moura.
Cap. IV: Especificidades e dinamismo dos movimentos de São Paulo:
O problema eleitoral e o movimento negro (302).




O movimento negro que se articulou durante a ditadura militar acabou por se fragmentar a partir do processo de redemocratização lenta e gradual deste regime para a “democracia” burguesa. As diferenças políticas e ideológicas que já existiam dentro do movimento, levaram neste momento pessoas e grupos negros a procurarem diferentes partidos políticos que estavam se legalizando, nestes algumas destas personagens se tornaram candidatos eleitorais (“Cria-se uma fragmentação do grupo letrado que tem ambições político-eleitorais pessoais”. 302). Esses partidos em sua maioria não apresentavam nenhuma proposta ou programa sobre a questão racial. Um exemplo deste problema se retrata na própria história do Partido dos Trabalhadores e a luta de seus militantes negros para afirmarem as pautas raciais dentro da organização, vide o programa das candidaturas a presidência que só no ano de 2002 teve pela primeira vez uma sistematização de propostas especificas para os negros.
A dinâmica de separação destes setores do movimento negros letrado e a forma com que se dá a construção (e podemos dizer também a cooptação) das figuras políticas negras, assim como a própria dinâmica do racismo brasileiro – a partir do mito da democracia racial, da pressão para o branqueamento e a fuga da identidade étnica do negro –fez com que o negro plebeu não visse “diferença entre votar em um candidato branco ou em um negro, pois ambos os retratavam da mesma forma, isto é, como objeto de seus desejos de mobilidade social e política”. (303)
Em geral, o universo negro letrado e seus ideólogos produziram, a partir de suas condições materiais, postulados sobre a questão racial que não alcançam o universo plebeu, estes são resumidos por João Borges Pereira nos seguintes pontos:
“a) O advento de uma era para os negros;
b) a esperança de um futuro fraterno;
c) a inversão na dialética das cores;
d) a meta de integração”. (306)
Também, a partir desses pressupostos é possível perceber como o universo negro letrado não consegue ou não quer compreender a dialética da dinâmica racial e sua relação com a questão de exploração de classe, que é indissolúvel. Como já mencionamos esse é um paradigma não só desse setor, Clóvis expressa a partir das palavras de Borges: “(...) como os teóricos acadêmicos ao estudarem o negro, os partidos políticos e os próprios negros não sabem como lidar essa ambiguidade. Os partidos políticos tratam o negro ora como parte de uma nebulosa minoria carente de participação social, onde se alinham as mulheres, homossexuais, índios, etc., ora como componente desadjetivado da sociedade brasileira, nivelando desta maneira os seus eventuais problemas específicos aos problemas nacionais. E a representação do modelo multirracial brasileiro  passa para os teóricos e práticos da política, que aliás se infiltra por todos os planos da cultura nacional”. (306)
O autor aponta como conclusão de sua análise da questão racial no Brasil que só a partir de uma relação dialética de raça e classe é possível construir uma postura radical capaz de unir os dois universos negros na luta contra a opressão e a exploração, pois o problema do negro na sociedade de classes passa necessariamente pelos problemas da divisão das classes sociais pelas lutas das classes subalternas.
Como problematização do movimento negro, o autor aponta que este, por sua vez, separa os elementos raciais da questão de classe, tentando desligar a exploração econômica do negro da opressão racial que sofre, transformando (na sua análise) o racismo em sentimento inato do branco. Essa visão não dialoga/ corresponde ao universo plebeu que sofre cotidianamente com o racismo que serve de ferramenta do sistema para explorar brutalmente esse setor e negá-lo a possibilidade de ascenção.
PS: o autor coloca nesta parte que especificamente em São Paulo “o modelo de capitalismo desenvolveu-se completamente” (309). Fico em dúvida se essa afirmação pode se interpretada como um rastro de uma visão estalinista de desenvolvimento etapista (fruto dos anos de militância no PCB), ou se é um apontamento sobre o local específico do qual se refere neste capítulo.