Desde o chamado para a greve internacional de mulheres,
tenho me perguntado o porque do meu distanciamento com o movimento feminista.
Ao reler “Mulheres, Raça e Classe” de Angela Davis me deparei com várias
questões que já havia levantado para companheiras do movimento feminista, do
movimento negro e de organizações de esquerda, assim como inquietações pessoas
que me distanciavam de várias lutas. A partir da discussão que Angela levanta,
decidi escrever não sobre o meu distanciamento do movimento feminista, mas
sobre o distanciamento desse movimento de mulheres como eu, em diálogo com uma
das mulheres que convocou essa greve, Angela Davis.
A questão central que esse livro evoca – e já aparece em seu
próprio título – é como as questões de gênero, raça e classe se colocam na
prática como elementos indissociáveis em nossa sociedade. Em outras palavras,
analisar qualquer um desses elementos como algo dissociado dos outros se torna
impossível, visto que cada um deles serve como aprofundador dos outros. Ou
seja, falar sobre mulher sem discutir a realidades das mulheres trabalhadoras,
negras, trans e etc. restringe o olhar do gênero, e mais do que isso
impossibilita a luta pela emancipação de todas as mulheres.
O feminismo, não só na história dos EUA, mas por todo o
mundo, incluindo o Brasil, se demonstrou muitas vezes racista e elitista, assim
como transfóbico, bifóbico e homofóbico. Fruto disso é que ainda hoje
carregamos em nossas pautas rastros dessas posturas. Será que quando pensamos e
elaboramos um programa de luta das mulheres levamos em conta nossas diferenças
e quais são as necessidades das companheiras marginalizadas por essa imensa
trama de opressão?
Um dos exemplos colocados por Angela Davis em seu livro é a
luta pelo direito ao aborto e como isso se expressava nas vidas das mulheres
trabalhadoras, negras e latinas. Gostaria de me debruçar sobre ele, para que
possamos nos perguntar, será que não estamos cometendo erro semelhante?
Os grupos de mulheres que se organizaram e lutaram pelos
direitos reprodutivos, infelizmente, não se deram conta (ou simplesmente não
quiseram pensar sobre isso) da necessidade de se unir ao conjunto das mulheres
e entender as diferentes realidades ao levantar a necessidade do direito ao próprio
corpo e à maternidade ou não. Essa luta, da forma com que foi levada, acabou se
misturando à defesa da supremacia branca, possibilitando a esterilização
involuntária de milhares de mulheres, que segundo a sociedade não estavam aptas
a terem filhos.
Por muitas vezes tenho me deparado com problemas como esses
na nossa luta pelo direito ao aborto. O direito ao aborto é uma pauta que diz
respeito a todas as mulheres, mas também é verdade que muitas das mulheres
trabalhadoras, negras e pobres sequer têm o direito à maternidade, seja por
esterilização involuntária (que também já aconteceu em nosso país), pela falta
de pré-natal, creches e auxilio do Estado para conseguir cuidar de seus filhos.
Afinal o cuidado com as crianças não deveria ser um dever das mulheres, mas sim
uma obrigação social.
Poderíamos gastar páginas e mais páginas para demostrar o
rol de pautas que acabam silenciando necessidades profundas da maior parte das
mulheres, ou mesmo a falta das demandas desses setores em nosso movimento, como
é o caso da exigência de restaurantes e lavanderias públicas, da luta contra a
hipérsexualidazão das mulheres negras, por igual salário e igual trabalho,
educação, pelo fim das mortes e estupros LGBTfóbicos e etc. A questão é que por
muitas vezes nos afastamos do movimento feminista porque esse não fala sobre a
nossa vida, nossas demandas e isso de nenhuma forma significa que nós não
queremos acabar com a opressão de gênero.
O chamado das companheiras para uma greve internacional de
mulheres tem em seu conteúdo uma tentativa de falar em nome da maioria das
mulheres. Usa a greve como ferramenta de reinvindicação, pois se trata de uma
poderosa ferramenta da classe trabalhadora. Mas vaia além disso, levanta a
questão das milhares de mulheres imigrantes que fogem dos seus países atacados
pelo imperialismo e são brutalmente oprimidas em outros países, das mulheres
negras, trabalhadoras e LBT´s. E o mais importante, na minha análise é que
essas mulheres decidiram negar o feminismo elitista e liberal, que só serve
para uma minoria de mulheres, burguesas e ricas que são responsáveis pela
opressão e exploração de muitas de nós.
A questão que gostaria de levantar nesse primeiro texto de
reflexão é, não é possível liberdade enquanto uma de nós continue vivendo na
exploração e opressão. O feminismo só pode realmente triunfar junto ao conjunto
dos oprimidos e oprimidas, esse deve ser nosso caminho.
Vivemos num sistema onde a maior parte da população é
obrigada a vender sua força de trabalho- ou seja, sua vitalidade – para
conseguir sobreviver, enquanto uma minoria vive de luxo roubando parte da
riqueza produzida pelo nosso trabalho. Nesse sistema a dominação das mulheres é
crucial para garantir a reprodução por um lado da classe trabalhadora, mas por
outro lado também da propriedade privada, assim como é necessário perpetuar o
racismo como ferramenta que possibilite colocar um setor da população
trabalhadora como cidadãos de segunda classe aumentando ainda mais o índice de
exploração.
Essas divisões, que não foram criadas por nós, impossibilitam nossa unidade contra nossos verdadeiros inimigos. Gostaria de deixar bem claro que, assim como já dizia C.L.R James, essa divisão ainda se perpetua no seio de nossa classe não por culpa das mulheres, dos LGBT´s, dos negros, mas por conta dos setores que reproduzem essa opressão fazendo com que nós não nos sintamos parte da luta, afastando os setores mais oprimidos como forma de manter um vínculo hierárquico de “sócio menor” da classe que oprime.
O desafio está posto, a história nos mostra que é preciso que construamos um outro feminismo, que se ligue a classe trabalhadora e que seja o porta voz das necessidades das mulheres mais oprimidas de nossa sociedade contra a classe que nos oprime e que faz questão de manter a opressão para nos explorar. Façamos desse 8 de março um recomeço de uma luta de real emancipação de todas as mulheres.
SOMOS MUITAS, SOMOS FORTES, E JUNTAS CONSEGUIREMOS VENCER AS AMARRAS DA OPRESSÃO MACHISTA!
Essas divisões, que não foram criadas por nós, impossibilitam nossa unidade contra nossos verdadeiros inimigos. Gostaria de deixar bem claro que, assim como já dizia C.L.R James, essa divisão ainda se perpetua no seio de nossa classe não por culpa das mulheres, dos LGBT´s, dos negros, mas por conta dos setores que reproduzem essa opressão fazendo com que nós não nos sintamos parte da luta, afastando os setores mais oprimidos como forma de manter um vínculo hierárquico de “sócio menor” da classe que oprime.
O desafio está posto, a história nos mostra que é preciso que construamos um outro feminismo, que se ligue a classe trabalhadora e que seja o porta voz das necessidades das mulheres mais oprimidas de nossa sociedade contra a classe que nos oprime e que faz questão de manter a opressão para nos explorar. Façamos desse 8 de março um recomeço de uma luta de real emancipação de todas as mulheres.
SOMOS MUITAS, SOMOS FORTES, E JUNTAS CONSEGUIREMOS VENCER AS AMARRAS DA OPRESSÃO MACHISTA!
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